Corrupção, uma praga na terra de Al Capone
O Globo | 10 de dezembro de 2008
Meirelles Passos Correspondente l WASHINGTON. A prisão de Rod Blagojevich não surpreendeu ninguém em Illinois. Ela era esperada, para qualquer momento, ao longo dos últimos cinco anos — tempo que duraram as investigações sobre ele. Os rumores a respeito eram cada dia mais fortes.
Além disso, mandar governador para a cadeia já se tornara uma tradição no estado.
Não é para menos. Afinal, quatro dos seus últimos nove governadores foram indiciados por corrupção. E três deles acabaram condenados — inclusive o antecessor de Blagojevich, George Ryan, que está preso numa cadeia federal por chantagem e fraude.
O atual governador, que está em seu segundo mandato e se auto-declarava um reformista, fora eleito em 2002 depois de uma campanha cujo mote era a luta contra a corrupção. O presidente eleito, Barack Obama, e Rahm Emanuel, que a partir de janeiro será o seu chefe de gabinete na Casa Branca, faziam parte de um grupo de conselheiros de Blagojevich em sua primeira campanha. Eles faziam reuniões semanais.
Embora a sede do governo de Illinois fique em Springfield, a capital do estado, boa parte dos políticos locais são catalogados há décadas como pertencentes à “escola de Chicago”.
Isso, na gíria local, equivale a dizer que alguém faz parte de uma quadrilha de corruptos.
Isso vem desde a época do lendário Al Capone, o seu criminoso mais afamado.
Essa reputação é tão forte que certa vez o escritor Saul Below fez a seguinte descrição: “Política é política, crime é crime. Mas em Chicago essas duas coisas ocasionalmente se sobrepõem. A linha que separa a virtude da marginalidade serpenteia furiosamente: de um lado o governo efetivo, do outro, as conexões”.
Negociatas, conchavos e artimanhas fazem parte do arsenal político local. Nos últimos 53 anos, Chicago foi governada durante 40 pelo (já falecido) prefeito J. Daley e por seu filho. Eles sobreviveram a vários indiciamentos, embora funcionários seus tenham sido condenados por falcatruas envolvendo contratos de serviços públicos.
Segundo analistas locais, a grande virtude de Obama foi não ter se contagiado pela tradição de fraudes e truques sujos dos políticos da região. Ele foi meticuloso e hábil ao conseguir manter sua independência, ao mesmo tempo em que tirava proveito político de relacionamentos com figuras importantes, mas de comportamento ético duvidoso. Até onde se sabe, Obama sobreviveu em tal ambiente sem se comprometer.
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